quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Chãos que pisamos (parte 1)

O sol já bate no chão ao lado da minha cama, o sol que entra no meu quarto recortado pelos ferros em cruz na janela no cimo da parede de pedras encavalitadas em desordem. O solo do meu quarto, amarelado. A minha cama, um colchão duro, de penas. Já amanheceu lá fora. O meu quarto. A minha casa agora de solo dourado e paredes enegrecidas, preenchida por um cheiro de lenha ardida na noite. Caminho sobre o ouro descalço, calco o ouro poeirento e encaminho-me para a porta que parece suster uma torrente de filigrana que já entra pelas brechas da porta. Abro a porta e absorvo a riqueza. Percorro o caminho sereno que me leva á aldeia, carreiro de terra estreito e ladeado de árvores cónicas, altas. Aqui o chão não é dourado. Nem de cobre. É escuro, húmido e sujo. Chego à aldeia pelo lado baixo, nos campos começam os agricultores o trabalho de mais de um dia. Ao fundo, no limite da minha vista, o castelo de encontro á montanha. Protegido. Antes de chegar à rua dos ferreiros, onde me emprego sob o olhar do senhor Afonsino, experimento os aromas e sabores de pão quente espalhados pelo ar. As mulheres com as pás, camisas arregaçadas pelo cotovelo, aventais brancos para as longas saias não se sujarem de farinha. Numa destas casas de chãos nevados habita uma força feita de gelo. Aparece á porta quando passo e o seu brilho de branco não permite que os meus olhos se tentem mover sequer naquela direcção. O gelo atinge-me as entranhas até que entro na rua onde o ferro tine, onde bigornas soltam faíscas, onde a água ferve ao ser beijada por materiais incandescentes. A rua que tem a casa onde Afonsino deita os seus olhos pesados e inquisidores sobre mim enquanto cumprimento o Teodósio.

Emanuel, 24-12-2008

Para já é só um ínicio de uma estória!
Assim que surgir mais inspiração...a continuação =) eheh

Comentem á vontade!

1 comentário:

Vicky disse...

Grande texto bro, desconhecia essa faceta de escritor!Grande ambiente e excelentes descrições...fico à espera da continuação.